Educação financeira vs Investimentos
- Eduardo Azevedo
- 10 de dez. de 2020
- 4 min de leitura
A inversão de prioridade que lhe afasta do enriquecimento
“It’s amazing how difficult it is for a man to understand something if he’s paid a small fortune not to understand it.”
“É incrível o quão difícil é para uma pessoa entender algo na qual ela pagou uma pequena fortuna para não entender.” (tradução livre)
― John C. Bogle, The Little Book of Common Sense Investing: The Only Way to Guarantee Your Fair Share of Stock Market Returns

A vida, em certos aspectos, exige de nós um certo descontrole, uma dose (nem que homeopática) de aversão às regras rígidas. Nestas situações, nossa vida se transforma num convite à espontaneidade e ao improviso. Em outros cenários, contudo, este desenho imaginativo de “aversão às regras” (que confesso ser quase sempre tentador) pode simplesmente significar a ruína de um sonho, ou, simplesmente, significar sua inviabilidade.
Quando falamos em finanças pessoais, somos levados a acreditar que podemos realizar uma jornada quase que aleatória pelo mundo dos investimentos, e que isso irá, invariavelmente, dar certo. Os caminhos possíveis nos são apresentados quase que diariamente na internet, palatáveis, convidativos. O resultado final sempre é o mesmo: INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA! Num único mês você já “estudou” e se deu por entendido em diversos assuntos relacionados ao mercado financeiro antes tidos como complexos. De certa forma, tudo faz sentido, não é mesmo?

Por outro lado, acredito que a maioria de nossos leitores considera pouco prudente que alguém pule etapas no ensino médico, por exemplo. Ou que pequenas empresas se endividem além de sua capacidade. Ou que alguém corra uma maratona sem se preparar para tal. São pontos aqui listados que o simples apelo à prudência nos faz considerar um fato mais ou menos correto (ou sensato).
Por que então, no mundo dos investimentos financeiros, somos quase que forçadamente direcionados a expelir a prudência de nossa tomada de decisões? Por que consideramos nos expor a situações que podem resultar em nossa ruína financeira? Por que consideramos razoável apostar contra ou a favor de determinada empresa sem conhecer todas as variáveis em jogo? Ou então, por que delegamos a terceiros a tomada de decisões neste campo?
É claro que é um assunto complexo. Interessa a muitos a participação maciça das pessoas neste mercado. Uns bem-intencionados, outros nem tanto. Aqui, até a definição de bem e mal é relativa. O ponto chave, porém, seria ao menos entender um aspecto: muito do que se sangra e se chora neste universo se dá pelo não entendimento do mais essencial e básico, ou seja, do conceito de educação financeira.

Não estou aqui estabelecendo uma visão com o intuito de dizer que, para entrar no mercado financeiro, deve-se ter formação acadêmica para tal. Muito pelo contrário. A sequência de eventos (ou prudência) as quais me refiro é a que respeita a ordem e a importância dos fatos na construção de um patrimônio sólido. É entender que a menor parte desta conquista virá dos juros e rendimentos de seus investimentos (principalmente no início). E que o seu trabalho e a sua capacidade de poupança (além do tempo) serão os principais fatores determinantes neste cálculo.
Desta forma, temos aqui o objetivo de mudar o foco de nossos esforços para o que realmente importa. Girar a nossa visão no sentido da educação financeira, e não somente no sentido dos investimentos financeiros.
A ferocidade no marketing digital de empresas e pessoas relacionadas ao mercado financeiro (não só de grandes instituições e grandes bancos) traz à internet e redes sociais noções distorcidas da realidade, levando pessoas que nem sequer entendem seus ganhos, gastos e planos a colocar parte de seu precioso patrimônio em situações nas quais desconhecem a natureza e o risco!

Claro que todas as pessoas tem, a princípio, condições sim de alocar o seu capital em investimentos financeiros, sejam lá quais forem. A questão aqui é entender que, num gigantesco universo denominado “educação financeira” ou “finanças pessoais”, os investimentos financeiros representam apenas uma pequena fatia. E, como qualquer campo de conhecimento, compreender a “educação financeira” como algo amplo (e não apenas restrito ao campo dos investimentos) é fundamental para a sua tranquilidade e para a tranquilidade financeira da sua família.
Desta forma, vamos direto ao ponto:
Educação financeira x Investimentos
Aqui, iremos tentar compreender, de forma simples, esses dois conceitos: educação financeira e investimentos financeiros.
Educação financeira abrange tópicos diversos, tais como: conscientização financeira (mudança de mentalidade e crenças), importância da criação de orçamentos domésticos, planos de poupança, gerenciamento de dívidas, estabelecimento de consumo consciente, foco no trabalho e em rendas alternativas, foco na educação e crescimento profissional, criação de uma reserva financeira para emergências, estabelecimento de investimentos financeiros com prazos previamente determinados e planejamento da aposentadoria.

Vemos, portanto, que os tópicos relacionados a “investimentos financeiros” são apenas uma pequena parte de todo o universo de conhecimento relacionado à educação financeira. E, ademais, importante destacar que, no acúmulo de patrimônio e na conquista da tão desejada tranquilidade financeira, muito mais importante do que se tornar um “mestre dos investimentos” ou focar apenas na rentabilidade dos investimentos financeiros, seria compreender que a tranquilidade financeira provém principalmente da capacidade de geração de riqueza (trabalho), da capacidade de geri-la (poupança) e do tempo. *entende-se aqui “poupança” como a capacidade de poupar dinheiro, e não o investimento denominado poupança que encontramos no nosso banco.
Em resumo, como bem colocado no plano diretor da ENEF (Estratégia Nacional de Educação Financeira) de 2010: o objetivo da educação financeira é “contribuir para o fortalecimento da cidadania ao fornecer e apoiar ações que ajudem a população a tomar decisões financeiras mais autônomas e conscientes.” Desta forma, de uma maneira geral, faz muito mais sentido, principalmente nas fases iniciais de acúmulo de patrimônio, concentrar nossas forças em estratégias que organizem nossas finanças pessoais (e as finanças da nossa família) e que alavanquem nossa vida profissional, seja como profissionais liberais, empreendedores ou funcionários em nosso campo de atuação.
E você? Já compreendia o conceito de educação financeira? Conhece os seus gastos e os seus ganhos? Tem projetos de ascender profissionalmente? Conhece a natureza e os riscos dos investimentos financeiros que lhe são apresentados?
Para conhecer mais o nosso trabalho, apresentar dúvidas, críticas ou sugestões, entre em contato com contato@limbico.site.






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